Os policiais da Unidade de Polícia Pacificadora (UPP) da Cidade de Deus estão nadando, malhando e praticando Jiu-jitsu e Defesa Pessoal nas dependências da unidade de Jacarepaguá do Serviço Social da Indústria (Sesi), localizado na Avenida Geremário Dantas – Tanque. A parceria que foi firmada pelo capitão José Luiz de Medeiros, comandante da unidade pacificadora, com Rogério Gomberg, diretor da área de esportes do Sesi, garante ainda um acompanhamento médico para os policiais, que está sendo feito pelos profissionais do Sesi.
A ideia surgiu através da necessidade, mas está fazendo tanto sucesso com a tropa que deve ser ampliada e, quem sabe, pode até, no futuro, beneficiar todos os policiais que trabalham com a pacificação.
– A nossa proposta é que isso ganhe estrutura, força e possa contaminar o restante das unidades, tanto de UPP quanto do Sesi. Que essa parceria vá se estreitando cada vez mais até que chegue a um ponto em que as duas instituições façam com que o custo para o profissional da polícia seja mínimo ou nenhum.
E mais: que essa parceria se estenda para os familiares, que eles estejam juntos em um momento de lazer. Chegamos assim ao ponto primordial, que é cuidar tanto do aspecto social do policial como da parte física – planeja Rogério, antes de explicar como funciona a parceria:
-Com o Sesi Clube eles têm direito de utilizar todas as dependências do Sesi, como a piscina, a quadra e o campo de areia. O que acaba servindo como instrumento para que eles façam um trabalho complementar de preparação física. Além disso, eles têm um preço bem mais em conta para aproveitarem a área de fitness, ginástica, cárdio e musculação. Dessa forma a gente vai fechando todo um pacote para o treinamento e preparação do policial.
Tudo começou quando policiais da UPP/Cidade de Deus montaram uma equipe de Jiu-jitsu, com aula de Defesa Pessoal. Eles estavam com dificuldades para encontrar um local adequado de treinamento e o Sesi ofereceu um espaço com o tatame novinho. Em troca, pediu apenas que o professor, o soldado Flávio Luís, faixa preta no esporte, desse algumas aulas para os sócios. Acordo firmado, o capitão Medeiros entrou no circuito e conseguiu estender o benefício para toda a tropa da UPP/Cidade de Deus.
-Pensamos junto com a equipe do Sesi em uma preparação física para o Policial Militar. Eles ofereceram o pessoal e foi montado um planejamento, com verificação do percentual de gordura e acompanhamento da evolução física. Assim os policiais não ficam pensando só em trabalho. Treinando juntos eles melhoram o relacionamento e, como estão utilizando as dependências do Sesi, também criam uma identificação com a sociedade em geral – explica o capitão Medeiros.
Natação e academia
Quando cheguei ao Sesi, os soldados W.Costa, Flávio Luiz e Félix estavam dentro da piscina, terminando uma aula de natação. Sob a supervisão de um professor, eles deram diversas voltas e tinham cada braçada acompanhada de perto. Inclusive com orientações sobre respiração, estilo e outras dicas importantes para um bom nado. Depois de ficar oito anos afastado das piscinas, o soldado W.
Costa estava feliz com a oportunidade de voltar a nadar.- É uma forma de arejar a cabeça. Voltamos para casa mais tranquilos e quando chegamos no trabalho de novo também estamos mais relaxados – explicou ele, que depois ainda seguiu para a aula de Jiu-jitsu.
Com o pior desempenho entre os três na piscina, o soldado Flávio Luiz está aproveitando a oportunidade para praticamente aprender a nadar. Ele até sabe ficar na água, mas “de forma didática”. Com essa especialização, o policial garante que vai ficar mais preparado para, quem sabe um dia, fazer um salvamento no mar.
-A UPP está me proporcionando aprender a nadar direito. Sou policial, mas posso um dia precisar salvar alguém no mar. Preciso estar preparado. Essa parceria feita pela UPP é muito importante. Agora, além de prestar um bom serviço para os moradores da Cidade de Deus, temos a oportunidade de praticar um esporte, melhorando a nossa condição física e de saúde – disse Flávio, que está feliz com a integração entre policiais e frequentadores do Sesi:
– Estamos conseguindo fazer com que aquela população que um dia nos viu apenas como um grupo opressor possa nos ver de uma forma mais amigável. Não somos melhores, nem piores. Viemos do mesmo meio social que todos esses aqui nessa academia – finalizou ele, que depois da piscina aproveitou para “puxar um ferro” na academia.
Defesa Pessoal tem arma e faca
As aulas de Jiu-jitsu e Defesa Pessoal acontecem dentro do ginásio. Enquanto meninos e meninas treinam em uma escolinha de futsal ao lado, outra turma divide o tatame com eles treinando judô. Mas todas as atenções estão voltadas para os policiais. Principalmente quando começa o treino de Defesa Pessoal. As crianças ficam impressionadas com a rapidez do soldado Flávio Luís ao desarmar o “bandido”. Da arquibancada do ginásio os pais também acompanham tudo.- Hoje quando chegamos aqui no Sesi as crianças nos olham como lutadores, mas elas sabem também que somos policiais da Unidade de Polícia Pacificadora da Cidade de Deus.
Eles nos vêm como heróis, nos abraçam, beijam, querem treinar com a gente, pedem para tirar foto. É motivo de orgulho. É a polícia fazendo a diferença – garante o faixa preta Flávio:- Nós usamos a defesa pessoal como arma no dia-a-dia. Eu mesmo antes de ser policial já consegui evitar um assalto à mão armada utilizando a técnica. É diferente daquele policial que antes só sabia se defender com uma arma. Hoje eles sabem que com bastante treino podem fazer a mesma coisa em precisar disparar nenhum tiro – finaliza.